Hélcio Augusto Cavalhero e Maiara Viegas aproveitaram a onda dos alimentos funcionais e dos food trucks
Estudo do Sebrae lista as opções de negócio mais lucrativas e
promissoras para enfrentar a crise. Empresas relacionadas a comércio
eletrônico, produtos sustentáveis e serviços que facilitem o cotidiano do
consumidor estão entre as principais tendências de mercado
Se o assunto do momento é a crise, há quem veja nas
incertezas econômicas oportunidades de negócio. Enquanto a taxa de desemprego
cresce, não ficar parado e criar a própria vaga de trabalho pode ser o caminho
para atravessar a maré de pessimismo. De olho nesse público que aposta no
empreendedorismo como opção de carreira, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae) no Distrito Federal fez um mapeamento com as
principais tendências por segmento. O estudo, obtido com exclusividade pelo
Correio Braziliense, será divulgado esta semana durante a Feira do Empreendedor
e traz mais de 50 opções de negócios.
O Correio
selecionou 10 oportunidades de até R$ 50 mil em investimento e mais seis
relacionadas a diferentes campos de atuação, que vão desde o setor de serviços,
passando pela indústria e pelo agronegócio (veja arte). O que a pesquisa do
Sebrae mostra é que as empresas relacionadas a comércio eletrônico, produtos
sustentáveis e serviços que facilitem o dia a dia do consumidor são as
principais tendências de mercado. “A crise precisa ser analisada pelo
empreendedor, não é todo segmento que está em crise. Nesses períodos incertos,
o dinheiro muda de mão. As oportunidades que o estudo mostrou são as latentes e
que a crise não abateu”, explica Antônio Valdir de Oliveira, superintendente do
Sebrae no DF.
A alta
renda per capita do brasiliense, a porcentagem significativa de funcionários
públicos na composição de trabalhadores e a grande capacidade de endividamento
amortizam o impacto da crise no DF em comparação a outras unidades da
Federação. Nichos de mercado como o relacionado à vida saudável continuam em alta.
Isso porque as famílias brasilienses não cortaram radicalmente do orçamento os
gastos que proporcionam qualidade de vida.
Interessados
nesse público, o casal Hélcio Augusto Cavalhero, 37 anos, e Maiara Viegas
Heusi, 31, inovou com a abertura da Fresh Food há quatro meses. A empresa é um
food truck baseado em alimentação saudável e funcional. “As oportunidades estão
aí a todo momento, basta ter olhos para ver”, acredita Hélcio. Maiara conta que
teve a ideia de abrir o negócio após perceber que a mãe dela, alérgica a glúten
e a lactose, não encontrava lugar para comer.
O casal
resolveu juntar a tendência de comida saudável ao aumento dos food trucks em
Brasília. “O food truck passou de moda para tendência, de tendência para
realidade, ainda mais em tempos de crise, em que todo mundo procura opções mais
baratas”, justifica Hélcio. De acordo com os empresários, o que está travando o
negócio é a indefinição legal sobre os food trucks.
Serviços
e produtos que investem na comodidade e na praticidade do cliente também estão
em alta. Por exemplo, a modalidade beleza em domicílio tem um investimento
inicial de R$ 31 mil, com promessa de faturamento anual de R$ 54,4 mil. O
delivery de frutas também é uma opção para quem tem pouco dinheiro inicial. Com
investimento de R$ 18,2 mil e retorno em menos de um ano, torna-se um negócio
atrativo.
O casal
Kely Cristina Ferreira, 42 anos, e André Walace Damasceno, 33, estão no ramo de
delivery de frutas há dois anos. Com a empresa Frugt, os dois foram os
pioneiros na atividade em Brasília. Eles vendem pacotes mensais e entregam,
diariamente, no trabalho ou na casa do cliente, o kit com as frutas
higienizadas e cortadas. Atualmente, empregam mais três pessoas e saíram da
condição de microempreendedor individual para microempresa. A expectativa de
Kely é transformar o negócio em franquia. “É claro que nós sentimos a crise,
mas o que percebemos é que o setor de delivery e de comida saudável não tem
como parar. Tem altos e baixos, mas com tendência de crescimento”, analisa Kely.
As
atividades voltadas aos cuidados pessoais, como personal trainner, cuidadoras e
babás, estão em alta, assim como as empresas que capacitam esses profissionais.
Uma empresa de recrutamento e treinamento de babás tem um investimento mais
alto (R$ 192, 4 mil), mas o faturamento anual é cinco vezes o inicial e com
retorno rápido — de 16 a 18 meses. “O empreendedor tem que saber que estamos
apresentando tendências. Se ele optar pelo negócio, tem que ver se tem vocação,
entender o mercado e fazer um bom plano de negócios”, afirma Antônio Valdir, do
Sebrae.
Programe-se
A 23ª
edição da Feira do Empreendedor ocorre de 26 a 30 de agosto, das 10h às 20h, no
Taguaparque. A expectativa é de que 12 mil
visitantes passem pelo evento, que oferecerá 163 atividades, sendo 11
palestras, cinco rodadas de negócios, um seminário de crédito e 146
capacitações.
Setores modernos
Para a especialista em empreendedorismo e inovação da
Universidade de Brasília (UnB) Cristina Castro-Lucas, as opções de negócio do
estudo do Sebrae chamam atenção para a atualidade, com negócios que, em um
passado recente, não eram pensados pelos investidores. Como exemplo, ela cita o
comércio de produtos antialérgicos, a venda de alimentos saudáveis e o serviço
de personal trainner direcionado para a terceira idade. “As pessoas estão em
busca de clientes específicos. Para isso, é preciso conhecer o consumidor.”
Cristina diz que essa é uma característica do mercado, uma vez que os
setores de comércio, serviço e indústria estão se diversificando para manter os
clientes, cada dia mais exigentes.
Para
Cristina, o fato de o país viver uma crise econômica não é um empecilho para
empreender. Ela é da corrente que acredita ser nos momentos de dificuldades que
surgem boas oportunidades de negócio. “Paralelamente à abertura do negócio, é
importante ser um eterno empreendedor, buscando conhecimentos e diferenciais
competitivos. Caso não ocorra isso, o investidor pode acabar engolido pelo
sistema.”
O
coordenador acadêmico de Empreendedorismo e Desenvolvimento de Novos Negócios
da Fundação Getulio Vargas, Marcus Quintella, tem uma postura mais reticente em
relação à abertura de novos negócios em período de crise. “Faltam dinheiro no
mercado e oportunidades de financiamento. É preciso avaliar com muito cuidado a
abertura de uma empresa para evitar uma falência precoce.” Quintela reforça que
é necessário investir em pesquisas sobre o consumidor, a concorrência e a
tecnologia a ser explorada. “Num momento de crise, as pessoas não estão
preparadas para consumir tudo o que lhes é oferecido. Elas optam por cortar do
orçamento os itens considerados supérfluos.”
O
especialista considera que as oportunidades listadas são facilmente
replicáveis no mercado. “A concorrência pode surgir facilmente, mas tudo é
passível de uma boa gestão de negócio bem estruturado”, aconselha Quintela.
Por: Flávia Maia – Thiago Soares – Correio Braziliense – (Foto:
Ed Alves/CB/D.A. Press)