Não chega a ser surpresa a decisão
da Mesa Diretora da Câmara Legislativa de suspender as investigações internas,
por tempo indeterminado, contra os cinco deputados distritais afastados da Casa
pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) a pedido do
Ministério Público, no rumoroso caso da Operação Drácon.
Para quem conhece o modus operandi sorrateiro e o corporativismo maroto
dos deputados distritais, a decisão do atual presidente da Mesa, Juarezão,
tomada na calada da noite da última terça-feira, era só questão de tempo, até a
poeira baixar e cobrir a memória com o pó fino do esquecimento. A armação da
atual Mesa busca jogar para futuro longínquo e incerto as possíveis perdas de
mandatos desses ilustres representantes da sociedade brasiliense. Trata-se,
obviamente, de visível manobra, gestada depois de forte pressão feita pelos
próprios acusados.
A medida, adotada sob o argumento pueril de que “não se pode condenar um
inocente ou inocentar um culpado”, configura um arranjo puramente interno,
arquitetado para anistiar uma camarilha para a qual, a população, ou mais
precisamente os eleitores, já mostrou o cartão vermelho.
Caso existisse na CL um mecanismo de recall, semelhante ao que as
montadoras de automóveis utilizam para tirar das ruas os carros com defeito de
fabricação, esses deputados seriam automaticamente substituídos, sem trauma ou
trambiques de qualquer ordem. A rigor, é preciso ressaltar que houve, por parte
dos órgãos de justiça que analisam o caso, elementos mais do que suficientes
para que fosse pedido o afastamento de todos os membros da antiga Mesa
Diretora. Ademais, a sociedade, por diversos meios, já manifestou claramente
seu desejo de que todos sejam afastados da CL, para que o processo de
investigação tenha sequência livre, sem interferências indesejadas e
prejudiciais.
Mais do que salvar da degola esses políticos sabichões, é preciso
salvaguardar, isto sim, a população do Distrito Federal contra a malversação de
seu suado dinheiro, pois cada centavo desviado representa um centavo a menos na
prestação de serviços públicos. Uma visita às escolas da periferia ou a um
hospital, como o do Paranoá, pode dar a dimensão da carência de recursos que
esses estabelecimentos experimentam no dia a dia.
Caso a decisão venha a ser efetivamente publicada no Diário Oficial do
DF, estará consumado, sob a chancela da Casa, o maior caso de afronta direta
contra os cidadãos de bem da história de Brasília. Nesse caso, as repercussões
negativas serão imprevisíveis e poderão se refletir igualmente sobre todos os
membros da atual legislatura, levando de roldão protegidos e protetores para a
vala comum dos políticos ladinos que a população quer ver bem longe.
***
A frase que não foi pronunciada
“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um
dos dois é burro.”
(Mário Quintana — (O trágico dilema)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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