Por Victor Dornas
No mesmo dia em que Renan Calheiros elogia Jair Bolsonaro como um promissor
detrator da cultura “policialesca” que tenta se instaurar no Brasil através da
operação Lava-jato, algo bastante estranho aconteceu no Supremo. O juiz Luiz
Fux, que, diferentemente dos advogados de políticos da corte suprema, estudou
para ser juiz e foi testado em concurso público, resolveu tirar das turmas
apartadas a chancela restrita acerca de processos de natureza penal.
Noutras palavras, resolveu dar enfoque devido aos casos de corrupção.
Meu caro leitor, Gilmar Mendes perdeu o chão! Dizem que até babou de
raiva e rolou no chão feito um bulldog totalmente desnorteado. Deve ter ligado
na mesma hora para seus novos amiguinhos, Dias Toffoli, Alcolumbre e o próprio
Bolsonaro, que numa única semana compareceu duas vezes na residência de membros
da turma. Fux, o atual presidente da corte, não consultou o bulldog, vejam só.
Na verdade não consultou ninguém, além da hermenêutica e do bom senso.
O juiz entendeu que, uma vez fragilizados os institutos de prisão e delação
premiada, que doravante as decisões de cunho penal devem ser apreciadas pelo
tribunal em plenário. Isto é, ações de figurinhas carimbadas como Lula e Flávio
Bolsonaro agora não poderão contar com o “garantismo” da segunda turma e terão
um obstáculo a mais para distorcer a lei. Isso irritou muita gente além do
bulldog. Irritou advogados caríssimos, a mídia stalinista, principalmente
aqueles jornalistas que já foram expostos na lava-jato, enfim. Um choro
inusitado e aberrante!
A solução para o Supremo, portanto, fica evidenciada: A corte precisa de
juízes!
No mundo democrático, nas nações mais prósperas, ter uma corte suprema
formada por juízes é uma obviedade. No Brasil, um país onde falsidade
ideológica na informação de currículos é vista como algo banal, acha-se normal
que um presidente escolha um amiguinho para compor um poder que deveria ser
independente. A burrice aqui é imperativa.
O presidente poderia escolher sim o seu candidato preferido, desde que a
lista fosse sorteada dentre interessados e membros da magistratura que
obedecessem a critérios rígidos de aferição de carreira, ou seja, dentre dez,
por exemplo, dos mais antigos, aleatoriamente, aí sim o presidente poderia
escolher o que melhor se alinhe ao seu modo de governar. Dar a chancela total
para que se coloquem amiguinhos é um disparate só defendido por idiotas. Não há
lógica ou justificativa plausível para a composição do STF da forma atual.
Este articulista não se incomoda de admitir erros, portanto é hora de
uma retratação. Quando Fux tomou posse, sucedendo o preposto do Lula na
presidência, confesso que não dei nenhuma bola, pois apesar do juiz já ter sido
várias vezes elogiado por Sérgio Moro e ser um magistrado de formação e não
mais um daquele bando de caras de pau, ainda assim Fux chegou lá por indicação
política do PT, ou seja, tanto faz como tanto fez. Conforme posto, eu somente
daria crédito ao Supremo se o sistema de indicações fosse idôneo.
Ao que parece, me enganei, especificamente com relação ao Fux que
demonstra aptidão para travar uma guerra contra o lamaçal de podridão que Jair
Bolsonaro pretende implantar no Supremo, começando pela indicação de Kassio
Nunes, que parece ter estudado na mesma escola de Carlos Decotelli e depois,
logicamente, os amiguinhos que estão sendo injetados em tribunais como o TCU.
Nesta primeira cartada, Fux avisou que cairá atirando.
Cairá, pois todo seu esforço em longo prazo será certamente inútil.
Nenhum tribunal resiste a vinte anos de aparelhamento petista e agora com mais
um alucinado, ou seja, Jair Bolsonaro, que se elegeu falando em apoio à Lava
jato e agora quer mesmo é se estabelecer como um populista arraigado na miséria
de um povo mal educado. Tudo que Fux fizer de bom será demolido por esse
conluio de ratos que festejam a “paz” entre os poderes e querem, ademais,
estender a loucura do sistema de reeleições ao Legislativo também, embora ali
não faça tanta diferença, pois entre Alcolumbre e Renan Calheiros, não há
escolha viável.
Imagine caríssimo leitor... há quatro anos, não se pensava que a
Lava-jato fosse menosprezada por boa parte da população, ou seja, fanáticos
petistas e bolsonaristas, como sendo um "estado policialesco"! Como
conseguiram deturpar tanto assim a operação? Simples, comprando jornalistas da
grande mídia. Vários! Cuja missão seria difundir a ideia de que deve-ser aparar
os "excessos" da operação, como por exemplo, o "excesso" de
querer prender vagabundo.
A política brasileira é uma eterna novela onde todos os capítulos terminam em
tragédias. É uma das organizações políticas mais estúpidas já criadas na
história humana, onde se personifica tudo que uma sociedade é capaz de fazer de
ruim. Quando surgem figuras dispostas a um ato heroico que seja, ainda que
efêmero, nos propicia um gostinho daquilo que seria um mundo mais justo. Deus
deu aos miseráveis um relance de dignidade. Um relance de uma esperança
perdida.
No momento, nosso relance é o juiz Fux.
(*) Victor
Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas, fotos ilustração: Blog-Google.
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