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Mais rápido do que um raio

Mais rápido do que um raio

Todos os meses, os brasileiros torram mais de R$ 30 bilhões em apostas de todo o tipo, sobretudo nas chamadas Bets, que são apostas em jogos de azar, geralmente nos ambientes online, onde os resultados esportivos diversos estão à disposição dos indivíduos, bastando, para isso, um toque de botão ao celular. Longe de se constituir num fenômeno positivo para a sociedade, para as famílias e para o próprio indivíduo, essas apostas vêm arruinando economicamente os cidadãos, transferindo verdadeiras montanhas de dinheiro para os donos desses negócios, sendo que parte dessa dinheirama vai parar, diretamente, nos cofres das organizações criminosas, que, segundo os jornais, usam o artifício para a lavagem de dinheiro.

É o dinheiro do povo financiando e fortalecendo legalmente o crime em nosso país. Talvez, por essa razão é que é possível deduzir que, desde que os sites de jogos e dos cassinos online se espalharam pelo país, curiosamente, tem aumentado também o poderio dessas organizações, que agora se espalham pelo Brasil, de Norte a Sul. A equação é simples: cresce o dinheiro em apostas, cresce a criminalidade ligada a eles. Em resumo, são pouquíssimos ou quase nulos os benefícios gerados pelo setor de jogos de azar. Como o próprio nome indica, o azar fica sempre para quem aposta e a sorte, invariavelmente, vai parar no bolso dos espertalhões, donos desse tipo de negócio, que não passa de mais uma jogada de malandro aplicada contra os incautos de sempre. A diferença é que, agora, o setor da jogatina passou a ser “regulamentado”, depois de sua implementação no começo deste ano.

Se juntarmos a liberação dos jogos de azar a fatores como o tradicional assistencialismo político à moda brasileira, com outros elementos como o Bolsa Família e com a conhecida e nada eficiente fiscalização dos órgãos de Estado, terá, em mãos, a receita ideal para a transferência de renda dos mais necessitados para uma casta de pessoas mal intencionadas, que se perpetuam no topo da pirâmide social. A fórmula vem desde a Roma antiga: dê-lhes pão e circo, torne-os dependentes do poder central e todo o resto seguirá como quer a classe dirigente.

Os recursos oriundos de programas sociais deveriam, dentro do bom senso e da ética, ser utilizados para a compra de alimentos, remédios e outros gastos necessários a uma vida com o mínimo de dignidade. Quando se verifica que esses recursos estão sendo gastos, não para os fins de necessidade, mas para a manutenção de vícios como os jogos de azar, a impressão que deixa no cidadão de bem, que, afinal, é quem custeia esse e outros programas assistencialistas, é que tanto o governo como aqueles que utilizam esses benefícios estão fazendo a população de trouxa.

Aqui também a questão é simples, ou pelo menos deveria ser: o Bolsa Família não pode ser utilizado para fazer apostas online. Mesmo assim, os beneficiários do Bolsa Família continuam apostando nesses sites de azar; para isso, utilizam milhares de estratégias. Somente no último mês de agosto, os beneficiados com esse programa gastaram mais de R$ 3 bilhões em sites e casas de apostas. O governo finge que não vê. As autoridades, idem. Somente os bancos, que nunca perdem dinheiro, conhecem essa realidade e passam a restringir créditos aos viciados em jogos, com medo, óbvio, de calote por inadimplência.

Já foi mencionado aqui, neste espaço, que, em muitas cidades do interior, quem fica com o cartão de benefício são os donos dos botecos mais próximos, que são vistos com frequência nas filas nos dias de pagamento. Há ainda aqueles que defendem que o governo não deveria, de forma alguma, interferir na autonomia dos beneficiados por esses programas, fazendo auditoria nesses gastos.

Já se sabe que as apostas online e outras modalidades de jogos de azar retiram recursos tanto do consumo normal como ainda geram crises e dívidas, muitas delas impagáveis. Muitos economistas chegam a dizer que as Bets estão tirando dinheiro da chamada economia real, impactando as famílias e gerando problemas generalizados de saúde. O mercado bilionário das apostas esportivas diz que tudo isso é fantasia, pois não enxerga a cor do dinheiro, venha de onde vier. A liberação desses jogos, como já era previsto, foi um enorme erro, pois a conta, até aqui, tem sido cara, principalmente para a sociedade e a economia do país. O crime organizado diz que isso é invenção. Esse setor, que nada se diferencia dos prestidigitadores que agem nas ruas, enganando os passantes, teve, segundo estimativas subdimensionadas, mais de R$ 70 bilhões de lucros nesses últimos doze meses.

Liberado desde 2018, sob a promessa de que a regulamentação definitiva viria de imediato, essa, de fato, não aconteceu. Enquanto isso, como sempre, os apostadores continuam na ilusão de ganhar alguns trocados seguindo a antiga fórmula de arruinar a própria vida mais rápido do que um raio.

A frase que foi pronunciada: “Se você não consegue identificar o otário na primeira meia hora na mesa, então você é o otário. ” (Mike McDermott)


Circe Cunha e Mamfil – Coluna “Visto, lido, e ouvido” - Charge do Orlando - Mike McDermott. Foto: theguardian.com – Correio Braziliense

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