Entrevista Paulo Henrique Costa,
presidente do BRB. Em entrevista ao Correio,
dirigente comemora resultados positivos e coloca como prioridade mudanças de
postura - com novo programa de integridade e estratégias de modernização - para
retomar a confiança da população no banco
"Queremos mostrar que há um
novo BRB nascendo"
Na Presidência do
Banco de Brasília desde o início deste ano, Paulo Henrique Costa comemora
resultados positivos no primeiro semestre à frente da instituição. A procura
pelos principais serviços oferecidos pelo BRB aumentou, e a expectativa de
crescimento superou as previsões. O avanço, porém, representa, na visão dele,
apenas o primeiro passo de um processo de reconstrução da imagem da
instituição, abalada, recentemente, por suspeitas de irregularidade e por um
encolhimento do BRB.
Para reconquistar a clientela
e impulsionar o crescimento do banco, ele aposta em mudanças de postura. O BRB,
explica o presidente, precisa se modernizar tanto em aspectos tecnológicos
quanto na capacidade de gestão. “O banco vinha num processo de diminuição do
seu tamanho. Ele vinha perdendo o protagonismo. Antes do início da nossa
gestão, houve uma operação investigando irregularidades. Então, o ambiente que
encontramos precisava de muita mudança”, explicou, em entrevista ao Correio.
A intenção da
diretoria do banco é também fortalecer a imagem e evitar que as irregularidades
se repitam. Um programa de integridade será implementado para coibir práticas
ilegais e corrupção nas atividades da instituição. “Queremos mostrar que há um
novo BRB nascendo. É um ciclo de crescimento, modernização e fortalecimento que
leva tempo, mas ele já nasceu e temos alguns desses resultados para
apresentar.”
O BRB está passando por um
processo de modernização? Como isso está sendo feito?
A marca desta gestão e a demanda
que o governador Ibaneis Rocha nos passou foi que nos tornássemos um agente
importante no desenvolvimento econômico, social e humano do Distrito Federal.
Ou seja, que o BRB cresça, que o BRB se modernize, se torne mais ágil e
participe de fato do dia a dia da população e do setor produtivo. Nesse
sentido, a modernização é fundamental, em uma série de frentes.
Quais são essas frentes?
O primeiro elemento de
modernização é a revisão dos nossos produtos e das nossas taxas visando a
transformar o banco em uma instituição mais competitiva. O segundo eixo é a
tecnologia. A população está cada vez mais acostumada a se relacionar com o
banco digitalmente. Então, compramos máquinas mais potentes, iniciamos a
revisão do nosso aplicativo. Também começamos a fazer mudanças na gestão. Modernizar
não é só aplicativo, é preciso modernizar a cultura, a mentalidade. Além disso,
estamos revisando o nosso portfólio. E essas mudanças que implementamos já
começaram a ser percebidas.
De que maneira as mudanças foram
notadas?
Com um aumento significativo no
volume de negócios. Nas principais linhas, crescemos bastante. Em junho,
fizemos quatro vezes mais consignados do que no mesmo período do ano passado.
Produzimos três vezes mais cartões de crédito do que antes. No crédito rural,
em junho, alcançamos o mesmo volume do ano passado e, no crédito para empresas,
conseguimos, só em junho, chegar ao mesmo patamar do primeiro semestre de 2018.
Esse protagonismo só acontece quando a gente se aproxima dos clientes.
O senhor esperava resultados assim
já no início?
Não, para falar a verdade. Estamos
revendo o orçamento do banco. Revimos uma vez e aumentamos a projeção de
crescimento do crédito em relação ao que encontramos em quatro vezes e agora
estamos refazendo para prever um novo crescimento. O que prevemos é que o banco
cresça, ao todo, oito ou 10 vezes mais do que se esperava quando chegamos. A
sociedade tem um vínculo emocional com o BRB, as pessoas gostam de fazer
negócio conosco. É isso que, com as mudanças que implantamos, explica esse
crescimento. O que me chamou a atenção positivamente foi a nossa capacidade de
resposta. A equipe conseguiu responder em uma velocidade acima do previsto,
procurou os clientes, se dispôs a entender o que eles desejam e a consequência
é esse aumento dos negócios.
Pensando nesse cenário de
crescimento e que há um concurso em andamento, qual a importância de aumentar o
quadro?
É fundamental trazer mais
profissionais. O projeto do banco é um projeto de crescimento. Vamos crescer o
volume dos nossos negócios e aumentar a nossa presença. O BRB estará em mais
cidades e ocupando um território no Centro-Oeste. Essas pessoas vão nos apoiar
nessa agenda de crescimento e expansão e trazer novas habilidades e
experiências. O banco passou muito tempo sem fazer concurso, e o mundo se
tornou mais digital, há novas exigências e expectativas dos clientes.
Há um cronograma para essa
expansão para outras cidades?
A ideia é que, nos dois primeiros
anos, fortaleçamos nossa relação com clientes e o nosso posicionamento no DF.
Nos dois anos seguintes, vamos fazer esse movimento de expansão. Quando se fala
disso se pensa muito na presença física em outros lugares, mas a expansão
também vai se dar de outras formas. Vamos lançar um banco digital, uma
plataforma digital de investimento e um processo de contratação de crédito todo
digital. E, quando se fala em banco digital, fala-se em crescimento nacional.
O BRB sempre teve uma relação
muito próxima do servidor público local. Como expandir a gama de clientes sem
deixá-los de lado?
O servidor público é nosso
principal cliente, é a base de tudo, é a razão de trabalharmos todos os dias.
Mas precisamos avançar, precisamos nos aproximar do setor privado, das
empresas, do setor produtivo e desses clientes que não são servidores. Nossa
estratégia é melhorar o produto, ter taxas competitivas e o canal digital
funcionando a contento.
Essa estratégia fará o cliente se
aproximar do banco?
Sim. O cliente precisa perceber
também que tem benefícios ao estar conosco, porque, além dos serviços, o BRB
patrocina o esporte, a cultura, está presente na vida dele de um jeito que os
outros bancos não podem estar. Se você tem condições iguais de competitividade,
fique com o banco da sua cidade, com o seu banco, o único em que tudo que é
produzido continua investido na própria cidade.
Desde a campanha, o governador
Ibaneis defendeu que o BRB deveria estar mais perto das ações do governo, ser
um banco de fomento. Isso está sendo feito?
O BRB, nos últimos anos, teve uma
ação muito tímida nas ações de fomento e desenvolvimento econômico e regional.
Uma linha central do papel do banco público é que ele precisa atuar de uma
maneira articulada com todos os entes do governo para viabilizar a implantação
de programas e produtos financeiros avançados. É o que temos feito. O banco
precisa estar muito próximo de todas as secretarias. Fizemos parceria com as
secretarias de Turismo, Esporte, Cultura. Vamos assinar um termo de cooperação
com a Secretaria de Educação para doar 1,5 mil computadores às escolas públicas.
Também vamos passar atuar em habitação popular e infraestrutura. Banco público
não pode simplesmente replicar o comportamento de um banco privado, precisa ir
além para promover desenvolvimento.
Como tem sido a relação com o
setor produtivo?
Estamos trabalhando na articulação
com as secretarias para captar investimento. Estamos oferecendo pacote de
investimento e apoio para todos os empresários que venham se instalar no DF e
atuando de maneira firme na concessão de créditos para empreendedores, para a
construção civil e ao agronegócio. Para coordenar tudo isso, fizemos várias
parcerias, com a Fecomércio, Sinduscon, Ademi, Abrasco. São órgãos que
representam o setor produtivo e vão ser porta de entrada para isso.
Existe um potencial nessa área que
estava deixado de lado no BRB?
Cada momento do tempo tem suas
circunstâncias e condições, mas olhando para o que temos hoje nas mãos vejo
muita oportunidade de crescimento, de aumentar o protagonismo do BRB. É curioso
que conversamos com empresários e todos têm sempre uma boa lembrança do BRB.
Queremos retomar esse sentimento de que o BRB é o banco que a população e os
empresários podem contar. O BRB tem que ser um indutor da realização de sonhos
dos brasilienses, da melhoria da qualidade de vida.
Qual foi a situação encontrada
quando o senhor assumiu? Já havia um cenário positivo para esse crescimento
registrado ou foi preciso mudar muito?
O BRB vinha num processo de
diminuição, perdendo protagonismo. Antes do início da nossa gestão, houve uma
operação da Polícia Federal, a Circus Maximus, investigando irregularidades. O
ambiente que encontramos precisava de mudança. A sociedade questionava a
existência do BRB. Mas o que encontramos de bom quando chegamos foram as
pessoas. A maioria dos trabalhadores daqui é sério, honesto, tem compromisso
com a sociedade e quer ver o BRB crescer.
O BRB está lançando um programa de
integridade para coibir as irregularidades. Como ele funcionará?
Implementamos várias ações para
evitar que situações que como as que ocorreram no passado se repitam. Uma delas
é o lançamento desse programa de integridade. A alta administração firmou um
compromisso em implantar e aderir as práticas. Lançamos um código de ética, um
código de conduta, um conjunto de práticas e relacionamento com fornecedores,
uma política de prevenção e combate à corrupção. Estamos revisando o estatuto.
Tudo isso gera um arcabouço importante para proteger o banco, direcionar e
deixar claro os comportamentos que esperamos nas nossas relações.
Na prática, isso evita que essas
irregularidades se repitam?
Sim. A gente está criando um
programa de capacitação e certificação interna, em que os empregados vão passar
por treinamento constante. Vamos ter um guia de integridade, vamos fazer
eventos, porque isso precisa ser uma coisa do dia a dia e as pessoas precisam
entender a necessidade desse programa. Vamos criar uma corregedoria para
acompanhar e apurar problemas e um canal independente de denúncias para que
asseguremos anonimato para quem quiser denunciar.
Esse programa também se encaixa
nas ações para retomar a confiança da população?
Com certeza. Queremos mostrar que
há um novo BRB nascendo. É um ciclo de crescimento, modernização e
fortalecimento que leva tempo, mas ele já nasceu e temos alguns dos resultados
dele para apresentar.
Alexandre de Paula - Foto: Ana
Rayssa/CB/D.A.Press - Correio Braziliense
Tags
ENTREVISTA