Documento
da CIA chega tarde
*Por
Circe Cunha
Com a
divulgação, publicada nos últimos dias, de parte de um documento da Agência
Central de Inteligência americana (CIA), supostamente mostrando que os dois
últimos presidentes do ciclo militar, Ernesto Geisel e João Figueiredo, não só
eram inteirados sobre a política de eliminação dos dissidentes ao regime, como
comandavam, de fato, toda a operação naquele período, lança gasolina na
fogueira em que ardem os antagonismos que opõem direita e esquerda.
Sem
dúvida, a revelação vinda de uma central de inteligência que teve participação
ativa naquele período, não só no Brasil, mas em todo o continente, reacende as
discussões e as polêmicas sobre esse ponto específico da história do país. Para
as esquerdas, a informação, trazida pela bisbilhotice alheia, vem em boa hora,
justamente quando parte significativa de seus maiores expoentes estão ou presos
ou sob investigação dos órgãos de Justiça, não exatamente por motivos
políticos, como querem fazer crer, mas por crimes absolutamente comuns.
Uma
instituição sólida, como o Exército, em que a obediência aos princípios da
hierarquia é a base de toda a doutrina militar, os comandantes supremos não só
tinham conhecimento de tudo o ocorria ao seu redor, como eram deles que,
diretamente, emanavam todas as decisões sobre assuntos de segurança nacional,
tida naquela ocasião como de máxima necessidade, segundo o relatório. O que soa
inacreditável é que a Comissão da Verdade, nitidamente partidária, trabalhando
por 30 meses seguidos com um grupo de mais de três centenas de pesquisadores,
revirando arquivos por todo o país, não tenha, em momento algum, se atinado
para o fato de que sem as decisões da alta cúpula do regime nada se fazia ao
derredor.
De toda
forma, o documento dessa agência ajuda a abrir as feridas daqueles tempos,
parcialmente cicatrizadas pelo processo de anistia que se quis, ampla e
irrestrita. No entanto, dois fatos se colocam no caminho da Comissão da
Verdade. O primeiro é que os protagonistas desse processo que poderiam
eventualmente ser processados ou condenados por esses atos estão mortos. Em
segundo lugar, a publicação desses documentos demonstra, na prática, que a
Comissão da Verdade, que deveria ter um caráter permanente de apuração dos
fatos, livres de tendências políticas partidárias de toda a espécie, acabou por
funcionar como entidade que visava ressarcir, economicamente, apenas um lado
desse conflito pela “Bolsa Ditadura” que , segundo cálculos custou aos
brasileiros mais de R$ 4 bilhões com reparações, inclusive a pessoas que
tiveram pouco ou nenhuma participação naqueles episódios, como é o caso do
ex-presidente Lula.
Dilma
Rousseff, de triste memória recebe, além dos benefícios como ex-presidente,
indenizações por sua atuação naqueles episódios por três estados, São Paulo,
Minas Gerais e Rio de Janeiro, que totalizam R$ 72 mil. O problema com fatos é
que eles só admitem um lado. Nesse caso, o correto seria condenar os excessos
dos dois lados e não penalizar os contribuintes, que, ao fim e ao cabo, foram
as verdadeiras vítimas da falta de liberdades.
Episódios
como esse ganham uma dimensão mais clara quando se observa que personagens que
tiveram participação ativa naqueles acontecimentos, como o ex-deputado Fernando
Gabeira e o intelectual Millôr Fernandes, simplesmente, recusaram receber essas
indenizações. Millôr, inclusive, com sua verve conhecida chegou a declarar na
época: “ Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?” Gabeira
também declarou ver com muita tristeza o pagamento de indenizações altas. Para
ele, esse processo colocava em dúvida o próprio idealismo.
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A frase que foi pronunciada
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A frase que foi pronunciada
“Peço
ao povo que me esqueça!”
(Um dos
últimos desejos de João Baptista Figueiredo antes de deixar a Presidência.)
Novidade
»PEC do senador Ataídes de Oliveira prevê
qualificações profissionais para o exercício de cargos em comissão. Espera
assim, desvincular apadrinhamentos e contribuir para um corpo de funcionários
totalmente qualificado. Essa é a Proposta de Emenda a Constituição 21/2017.
Contraste
»Cerco ao tabagismo. Projeto do senador José Serra
é apreciado no Senado. Foi interessante ver a pesquisa minuciosa lida pelo
senador Cristovam Buarque sobre os males trazidos pelo fumo. Nem parecia o
mesmo senador animado em aprovar a maconha para recreação.
(*) Circe
Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog Google